quarta-feira, setembro 06, 2006

VICENTE ARAÚJO RECUSA REVELAR O NOME DO FUTURO SELECCIONADOR

Depois de um ano em que a Selecção Nacional teve o pior registo de sempre na Liga Mundial, em que aconteceram episódios como a saída de Francisco Dos Santos, O NORTE DESPORTIVO tentou saber o nome do próximo seleccionador português, mas Vicente Araújo, Presidente da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV), apenas manteve a afirmação de que o sucessor do treinador brasileiro será latino. Além disto, tentamos saber se foi o técnico a demitir-se ou se foi a FPV que o despediu. Porém, sem sucesso.
Assumiu a presidência da Federação Portuguesa de Voleibol há muitos anos. O que o motiva?
Os desejos constantes que vão aparecendo e que é necessário ultrapassá-los.
Os projectos que tinha idealizado foram cumpridos ou ainda há alguns que ficaram por realizar?
Há muitos projectos que foram objectivados e conseguidos, mas outros que também foram objectivados e que estamos a tentar consegui-los, nomeadamente o centro de estágio. Na generalidade, os princípios que foram idealizados na altura da minha candidatura foram cumpridos.
Que balanço faz destes anos todos como «chefe-maior» do voleibol português?
Eu não preciso fazer balanço nenhum. Os outros é que precisam de fazer um balanço do que era o voleibol em 1995 e o que é a modalidade hoje. Não vou estar a fazer um balanço, porque estou satisfeito. Tínhamos menos de 10 mil atletas e agora temos cerca de 30 mil praticantes. Jogamos com as melhores selecções do mundo, o que não acontecia antigamente. Existem diferenças enormes a nível das camadas jovens, pois passamos a ter concentrações de cadetes e juniores a tempo inteiro e passamos a ter a principal selecção a trabalhar de forma constante. Enfim, é uma diferença muito grande. Também, mudámos de instalações e passamos a ter o dobro dos funcionários. Portanto, fizemos mudanças que estão bem visíveis e que foram acontecendo ao longo do tempo.
Já afirmou que o próximo treinador será latino...
Quando eu disse que o seleccionador ia ser latino é porque tenho alguma razão para isso. Nós somos latinos e temos uma forma de estar, que se calhar outros não entendem e é díficil unir um grupo quando não se entende a sua mentalidade. Na minha perspectiva devemos ter um treinador latino, seja ele brasileiro, argentino, espanhol ou italiano.
Podemos esperar o regresso de Juan Diaz?
Não sei se poderá ser ou não o regresso de Juan Diaz, o que posso dizer é que será um treinador latino. Já estiveram cá treinadores como o Juan Diaz, Samuel ou o Chico Santos e em comum têm o facto de serem latinos. Até pode ser português.
Daniel Lacerda ou Carlos Prata são nomes a ter em conta ou pode ser um treinador, que neste momento, está ao serviço de um clube português?
O Daniel Lacerda e o Carlos Prata não são de certeza. Só posso dizer que o próximo treinador será latino e que daqui a algum tempo se saberá o nome.
Portugal está fora do Mundial e não conseguiu apurar-se para o Europeu, onde era apontado como um dos favoritos. Isto representa um passo atrás na modalidade?
Não representa passo atrás nenhum. O voleibol não é só a selecção masculina, mas muito mais do que isso. Temos muito clubes e muitos atletas. Temos projectos como o Gira-Volei e competições de infantis, iniciados e juvenis, Taça de Portugal, voleibol de indoor e de praia. Tudo isto é voleibol. É fácil atingrimos o topo ou chegarmos perto dele, agora mantermo-nos lá é que é díficil e não podemos querer estar sempre lá, porque há momentos altos e baixos. Estamos num momento de rearranjo, mas podemos dizer que a selecção de seniores está a jogar mais vezes, do que jogava há cinco anos atrás e, por isso, as outras equipas sabem que têm que trabalhar muito mais para nos vencer. Não podemos ver o desporto pelos sucessos ou insucessos de uma selecção, temos que ver a modalidade pelo seu conjunto. Se me perguntar se o ano foi positivo eu respondo afirmativamente, visto que continuamos a crescer em números de atletas e outros aspectos. Nós lançamos um projecto na internet que não foi entendido pelas pessoas e quem for ao nosso «site», encontra uma ligação intitulada por volei.tv, que dá hipóteses aos mais novos de se mostrarem. Além disto, há um conjunto de situações que foram sucedendo até ao momento, onde se verifica que o voleibol está vivo e que vai continuar a crescer.
Os atletas Miguel Maia e João Brenha são a grande referência a nível nacional. O que é necessário fazer para que surjam novos seguidores?
Temos que perceber que fazemos parte de um país com cerca de 10 milhões de habitantes e que não é fácil apareceram jogadores como o Maia e o Brenha, pois estes são dois fora-de-série. Já temos uma dupla que começa a dar nas vistas, que é o caso do Pedrosa e do Rosas. Desde 1996, que o voleibol de praia começou a fazer parte dos Jogos Olímpicos e, por conseguinte, houve uma mudança radical no panorama de quem ganha, sem ser o Brasil, EUA ou a Austrália. Houve uma viragem a leste, pois há um novo conjunto de equipas oriundas do norte e do leste europeu, que tem trabalhado e conseguido óptimos resultados. Há uma maior participação e com isto mais dificuldades em chegar ao topo. O Pedrosa e o Rosas e outros têm dado boas indicações de que poderão fazer alguma coisa. Também no futebol, não podemos esperar que apareçam Eusébios todod os dias.
A dupla portuguesa de voleibol de praia, constituída por Miguel Coelho e Filipe Catarino, que alcançou o nono lugar no último Mundial de sub-21, na Polónia, em entrevista ao nosso jornal, reclamaram mais apoios financeiros por parte da Federação Portuguesa de Voleibol. No seu entender a contribuição atribuída foi a suficiente?
Eles reclamaram mais apoios, todavia eu também queria mais apoios. Se calhar outras duplas queriam participar e não puderam. Contudo, não sei se a contribuição foi a suficiente, mas foi a possível.
No que diz respeito aos Jogos Olímpicos (JO) de Pequim em 2008, quais são as expectativas da FPV?
Há 15 anos era um disparate muito grande dizer que Portugal poderia participar nos Jogos Olímpicos. Neste momento, é possível dizer isso, aliás nós não participámos nos últimos, porque tivemos o pássaro da mão e com a gaiola quase fechada e no último instante ele fugiu, ou seja, tivemos a ganhar por uma grande vantagem pontual com a Polónia e acabamos por perder e se vencêssemos esse jogo estavamos qualificados. Existem 218 federações filiadas na Fedreação Internacional de Voleibol (FIVB), só na Europa são 54 e no ranking mundial aparecem países do Velho Continente com muito dinheiro e com centros de recrutamento maiores que o nosso. Isto leva ao facto de discutirmos um lugar nos Jogos Olímpicos com equipas muito fortes. É obvio que estar presente nesta competição é um dos nossos objectivos.
Uma vez representados nos Jogos, é possível conseguir alguma medalha?
Não sei se podemos chegar às medalhas. Vamos jogar para ganhar e estar presente já é um passo importantíssimo, depois vamos tentar passar à segunda fase e então veremos. Não vamos dizer que queremos chegar ao pódio, é claro que gostaríamos, mas temos consciência que é difícil. No voleibol de praia, já tivemos duas vezes perto das medalhas com o Maia e com o Brenha e apesar de derrotarem equipas poderosas, perderam nos jogos que davam acesso às medalhas.
O nível competitivo das provas nacionais tem vindo a melhorar...
Não só tem vindo a melhorar no aspecto de competitividade, como a nível de audiência de espectadores por jogo. Temos tido muitos espectadores nas competições portuguesas, principalmente nas fases finais.
Nos últimos anos, as equipas lusas têm obtido excelentes resultados nas competições europeias. Os clubes melhoraram a forma de ver essas provas?
Tiveram prestações melhores do que as anteriores. Obviamente, que houve uma melhoria, pois os clubes trabalham mais a sério e por isso os resultados aparecem. A nível nacional, este ano tivemos cinco equipas a lutar pelo primeiro lugar, enquanto nas outras edições, o campeonato estava resolvido em Janeiro. Hoje, há uma maior competitividade e como resultado disso, o voleibol cresceu.
A FPV teve alguns problemas com a arbitragem na edição deste ano do campeonato nacional, nomeadamente no jogo Benfica-Vitória de Guimarães. Está preparado se acontecer episódios idênticos?
Não sei qual foi o problema nesse jogo. O que aconteceu foi um problema que se solucionou na altura. O jogo continuou e acabou. Houve protestos e recursos, mas isso já está resolvido, pois a Federação estava e continua preparada para responder aos desafios e problemas que possam acontecer.
Ficou satisfeito com o campeonato nacional do ano passado?
Sim, com um balanço muito positivo devido às muitas horas de televisão e com competitividade que prolongou a decisão final até ao último momento. Tivemos muito espectadores, mas ainda temos que melhorar.
E com a vertente de praia?
Acabou há duas semanas com a final em Esposende. Esteve muito público, apesar do vento. Este ano, o Campeonato teve 11 etapas e foi melhor do que o anterior.

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LIGA MUNDIAL

NO GRUPO MAIS FORTE DE TODOS

Relativamente à prestação da selecção nacional na Liga Mundial, o que aconteceu?
O que se passou foi um azar, que começou com a lesão do distribuidor Nuno Ribeiro e ainda, porque jogámos com as melhores equipas do mundo, que é o caso do Brasil, que se sagrou campeão do Mundo, da Argentina, que é uma formação de topo e quem assistiu aos jogos viu que nós jogamos de igual para igual e os resultados não foram muito desnivelados. Ficará para outra oportunidade. A Liga Mundial não foi nenhuma tragédia, pois é importante perceber que é uma competição de alto nível.
Mas o último lugar do grupo não o desiludiu?
Não, de maneira alguma.
Não concorda que a prestação portuguesa poderia ter sido melhor?
Acho que poderíamos fazer melhor se tivéssemos outras condições que não tivemos. Não foram condições ligadas à logística ou a nível material, mas as condições dos jogadores. O jogador-chave da equipa chegou lesionado e esteve parado e quando começou a treinar lesionou-se novamente, o que trouxe desvantagens para o conjunto. Contudo, temos que ver, que as equipas que estavam no nosso grupo. O Brasil ganhou a Liga, a Argentina é uma das melhores selecções do Mundo e a Finlândia é uma selecção de altos e baixos, que agora atravessa um bom momento de forma. Ganhamos um jogo, porém podíamos ter vencido mais e tivemos quase a conseguir. É preciso ver os resultados dos «sets» e dos jogos que forma muito renhidos. Agora, se isso foi uma má classificação, não era o nosso objectivo.
Não o preocupa o facto da classificação de Portugal ter sido o pior registo de sempre, com 11 derrotas e apenas uma vitória...
Isso não me preocupa, já que ficámos no grupo mais forte de todos.

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FRANCISCO DOS SANTOS

FIM DO RELACIOnAMENTO DEVEU-SE
À INDISPOSIÇÃO DO TREINADOR

Quais foram as razões que levaram à saída do treinador Francisco dos Santos?
Não quero falar sobre isso.
No entanto, não acha importante explicar se o técnico foi dispensado do cargo ou foi o próprio a demitir-se?
Isso não é importante. O que levou ao fim do relacionamento foi uma indisposição do treinador, que não conseguiu acabar o jogo da segunda mão frente à Argentina. Por isso, se não conseguiu acabar o jogo, também não tinha condições para prosseguir à frente da selecção.
Segundo Franciso dos Santos, “estava a mais no voleibol” e que “não existiam condições para continuar”. Que comentário merece estas afirmações?
Quando as pessoas estão nervosas e quando são entrevistadas a quente, dizem alguns disparates. Quando a entrevista é feita em cima do acontecimento, a maior parte das vezes, as pessoas dizem coisas que se voltassem a ser entrevistadas a frio não diziam o mesmo.
A ruptura começou quando o ex-seleccionador português empurrou o segundo árbitro no jogo com a Argentina, em Matosinhos?
Se calhar não vimos o mesmo jogo. Ele não empurrou o árbitro, apenas o chamou à atenção, e que tinha tocado na sineta para desconto de tempo. Uma coisa é chegar perto do árbitro e empurrá-lo e a outra é chamá-lo à atenção. Aí não começou nada, apenas lamenta-se a atitude que ele tomou. O comportamento do treinador em campo tem a ver com o feitio e com a maneira de estar dele. Contudo, não estaria a perguntar isso, se Portugal tivesse ganho os jogos todos.
Por exemplo, o seleccionador do Brasil, Bernardo Resende, quando está a vencer está calmo, mas quando está a perder salta e protesta. O que aconteceu foi que ele não teve condições para acabar o jogo e, por isso, também não teve condições para acabar o contrato.

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